sexta-feira, 11 de junho de 2010

Capítulo Três

Marianne foi para o quarto quando Ártemis a deixou no dormitório dos primeiranistas. Estava vazio, a não ser por uma ou duas garotas atrasadas para o jantar. Olhando ao redor, subiu a escada que daria para seu quarto e, quando tocou na maçaneta, estacou. Sentira uma força mágica muito alta atravessar a porta.

Enquanto encarava a porta com uma bola de fogo preparada na mão – que, aos olhos de um humano normal, parecia apenas uma bolinha pula-pula vermelha – a porta escancarou-se e ela se viu encarando, ao invés, uma bola mágica de energia.

- Marianne? – Ela só teve tempo de escutar um grito de alegria entes de ter sua visão completamente obstruída por cabelos loiros compridos enquanto era abraçada.

- Demetris? – Gritou Marianne, abraçando de volta a irmã e companheira guardiã que não via há dezessete anos. Cabelos loiros e ruivos se misturaram em um turbilhão, as bolas de energia se apagaram e os olhos – azuis de Demetris, cinzas de Marianne – ficaram marejados de lágrimas de felicidade.

- Ai, desculpa. Ficar nessa forma de criança me deixa emocional! – Marianne limpava as lágrimas, mas ainda radiava felicidade.

- Ahh, nem liga. Que bom que você está aqui, e... – Com uma parada abrupta, Demetris encarou Marianne. Sua expressão mudou de felicidade para horror. Quando Marianne finalmente entendeu, seus joelhos cederam e ela caiu sentada.

- NÃO! Se nós estamos aqui... Então os dois vão... Mas... Isso... Elas... Será que as duas também estão aqui? As guardiãs das Trevas? Se Daniel e Ártemis se encontrarem, eu não quero nem ver! – Marianne choramingou até que Demetris entregou-lhe um copo d’água.

- Se você conseguiu sentir a energia que emanou de mim através da porta e eu consegui sentir a sua, e nós estávamos há pouco tempo com os dois, isso significa que vai ser muito perigoso se os dois se virem. A energia que eles emanam, apesar de ser pouca comparada com a original, graças aos cristais, ainda é enorme. – Demetris, sempre a mais racional, ajudou sua irmã a se levantar e sentou-a na cama, enquanto, apenas com o olhar, trocava a roupa das duas, colocando vestidos brancos com lantejoulas parecidos em ambas.

- O que significa que, se as guardiãs das Trevas estiverem aqui, e os dois se encontrarem e os cristais brilharem, elas vão total perceber que tem alguma coisa errada. Se aqueles pingentes ao menos derem indício de uma cintilação, um ser mágico consegue sentir a força deles de muito longe. O que faremos agora?

- Vamos, simplesmente, agir normalmente. Se estivermos por perto e nos concentrarmos, podemos fazer com que a magia pareça mais fraca. Depois, faremos de tudo para que eles não se encontrem. Espero que dê certo.

Apressadas, saíram correndo para o refeitório (chamado de Salão de Jantar no internato) e, ao entrarem, olharam ao redor, procurando seus respectivos protegidos. Depois de alguns minutos olhando em volta, sentiram quatro poderosas energias e, ao mesmo tempo em que todos no local, escutaram o barulho de uma trombada e um ofegar na porta do refeitório.

Rezando para que não fossem as duas únicas pessoas que fariam com que tudo desse errado (sabendo, é claro, que eram, porque nunca acontece o que a gente espera), viraram-se em direção a porta e viram duas pessoas que pareciam deuses gregos de tão lindos – a garota nos braços do garoto, os cabelos brilhantes que pareciam mudar de cor, os olhos verdes vivos, um tão alto e de porte atlético quanto o outro – se encarando. O garoto segurava a bolsa da menina na mão que não a amparara antes de cair no chão, e os pingentes em seus pescoços começaram a cintilar.

Lembraram-se, então, das duas outras energias que sentiram ao ouvirem o baque. Percorreram o salão com os olhos e viram mais duas garotas – também do primeiro ano, mas que, pela quantidade de gente com quem se sentavam a mesa, já estavam lá há bastante tempo – que começaram a cintilar – do mesmo modo que Demetris e Marianne – ao mesmo tempo em que os cristais por debaixo das roupas dos dois começaram a soltar energia.

As duas, claro, não podiam ver o cristais de Luz – mas as guardiãs da Luz conseguiam ver os cristais de Trevas que pendiam de seus pescoços. E, apesar de não verem os cristais, conseguiam sentir a energia que os dois soltavam. Mal perceberam que, enquanto encaravam as duas, o barulho no lugar tinha cessado por completo e que, depois de alguns momentos, os dois garotos na porta viraram-se, constrangidos, para dentro do salão e iam em direção as duas.

- Hmm... Demetris, essa é, hmm... Ártemis... Ela também é nova aqui... Como a gente... E, hmm... Ártemis, essa é minha irmã mais nova, Demetris. Ela é dois anos mais nova do que eu, e está no primeiro ano. – Corado – uma coisa que Demetris nunca vira antes – Daniel apresentou as duas.

Pensando que Demetris era absurdamente parecida com Marianne, Ártemis cumprimentou-lhe com dois beijos na bochecha, como duas garotas quaisquer se cumprimentariam.

- E, hmm... Marianne... Bom, acho que você já conhece a Demetris e... Ahh... Esse é o Daniel... E... Bom... Ele já disse que é novo e... Haann... Acho melhor que... Bom... Como somos novos, sentarmos juntos... – Ártemis gaguejava – o que não era normal – e estava vermelha como uma criança pega no flagra comendo um doce fora de hora.

Com as devidas apresentações, seguiram para a mesa e, após alguns momentos de conversa recatada, todos começaram a se soltar. No fim do jantar, conversavam como se se conhecessem há anos – o que, tecnicamente, era verdade, mas os dois não sabiam disso.

- Não podemos ficar o tempo todo com eles agora! Como vamos fazer para protegê-los daquelas duas? – Sussurrou Marianne enquanto os dois estavam em um animado – e um pouco acanhado – papo sobre suas cidades natais.

Quando ia responder, ouviram duas vozes acima de suas cabeças. Levantando o olhar, viram as duas garotas que perceberam a magia deles bem atrás de Daniel e Ártemis, parecendo devorá-los com os olhos.

- Ahh, oii para vocês quatro! Vocês devem ser os quatro AO desse ano (Alunos De Ouro). – Dizia a primeira, uma garota com cara de uns 18 anos (mas que tinha 15; pelo menos no disfarce), cabelos castanhos no meio das costas, olhos castanhos e um sorriso falso – Meu nome é Alexa. Vim aqui como vice-presidente do primeiro ano dar as boas-vindas para as duas.

Olhando-as de cima a baixo, Alexa pareceu concluir uma das duas coisas: ou Marianne e Demetris eram as guardiãs, ou eram as princesas. Aos dois, nem sequer deu muita atenção. Parecia analisar as duas, primeiro.

- E eu sou Jackie. Também estou aqui como uma das primeiranistas mais antigas para dar as boas-vindas para vocês. – Agora virando-se para os dois – E a vocês também. Mas não podemos fazer nada quanto aos veteranos... Esse é o trabalho do grêmio. Se vocês andarem por ai pelo internato podem encontrar um deles. – Dessa vez eram a eles que observavam. Ao pousarem em seus pescoços, seus olhos se arregalaram. – Bom, vamos indo. Acho que vocês já têm seus horários de aulas, não?

Os quatro afirmaram e as duas foram embora, parecendo, de certa forma, assustadoras. Marianne e Daniel se levantaram ao mesmo tempo quando elas saíram de seu campo de visão.

- Eu vou para o quarto. Você vem, Demi? – Marianne lançou um olhar significativo e Demi concordou e também se levantou. Elas pareciam assustadas e alarmadas com alguma coisa.

- Hmm... Eu vou pegar o horário no meu quarto e depois vou dar uma volta por aí... Quer ir, Ártemis? – Encabulado, Daniel olhava para qualquer lugar, menos para ela. Droga, o que essa menina fizera para deixá-lo desse jeito? Era como se, para ele, ela fosse algo que precisasse ficar sempre por perto, para que ele conseguisse se sentir bem. Era uma estranha mas, ainda assim, surpreendentemente familiar. Era como se algo estivesse dentro dele obrigando-o a ficar ao lado dela... Como que... Para protegê-la.

Sorrindo, Ártemis levantou, pegou sua bandeja, devolveu-a a senhora da limpeza e voltou para onde os três estavam (quando eles se mexiam, todo o salão parecia ficar quieto e os contemplavam, aturdidos). Ela nem olhou em volta, sem se importar com o que quer que pudessem pensar. Simplesmente queria passar o resto do dia com a companhia daquele menino, que despertava algo dentro dela que ela parecia não ser capaz de controlar.

- Você não se importa, não é, Mari? Também vou pegar meu horário e dar uma volta pelo campus... Sabe, tenho que conhecer as coisas, para não me perder e tudo...Rindo como duas malucas, Marianne e Demetris correram para fora do salão sem que Marianne respondesse. Agora encabulada, Ártemis virou-se para Daniel, que sorria daquele jeito que fazia seus caninos cintilarem de um modo estranho e, ao mesmo tempo, familiar. Era um sorriso sarcástico, que parecia ficar em seus lábios o tempo inteiro, junto com o olhar que, Ártemis já notara, não era de desprezo ou sarcasmo, mas que assim parecia. Daniel era um mistério. Ártemis, sendo ótima para solucionar mistérios, estava decidida a resolver esse.

Capítulo Dois

Daniel andava pelos corredores com Demetris pensando o que o fizera deixar Sidney. Depois de muito pensar, decidiu que foram as coisas ruins que aconteciam o tempo todo – sua velocidade absurda, rápido raciocínio, sempre adivinhar o que os outros estavam pensando, sua força anormal; - tudo fazia com que coisas horríveis – como tentar puxar uma corda para ajudar a levantar uma caixa bem pesada, a corda arrebentar por ter puxado forte demais, apesar de, em sua opinião, ter sido super fraco – acontecessem.

Deixou suas coisas em seu quarto e, constatando que seu colega de quarto não estava lá (deveria estar no refeitório) saiu, apressado, pensando novamente nas coisas estranhas que aconteceram.
Não sabia por que, no entanto. Sempre tentara agir da forma mais normal possível. Nunca entrara em competições nem nada, e sempre fora bem na escola. Fora o seu pingente de cristal, que ganhara ao nascer, não usava nada de jóias. Era popular com as garotas e tinha vários amigos... Mas nunca tentara nada em particular com nenhuma das meninas que se aproximaram.

Foi enquanto pensava nisso que esbarrou nela. Completamente perplexo com o súbito encontrão, focou-se bem a tempo de ver uma garota caindo. Esticou-se e segurou a ela e a sua bolsa antes que chegassem a bater no chão da frente do refeitório, onde todos pararam de falar para observar a cena. Sua irmã, Demetris, e uma garota ao seu lado, encaravam-nos fixamente e com horror absoluto no olhar, mas ele não se importava.

A garota era maravilhosa. Os cabelos eram compridos e, assim como os seus, não pareciam ter uma cor certa: pareciam mudar de cor constantemente – de um vermelho vivo para um amarelo dourado. Do dourado para o castanho. Do castanho para o preto, e essa era a cor que dominava. – e eram brilhantes como nenhum outro. Seus olhos eram verdes vivos e brilhantes. Cintilavam, enquanto o examinavam do mesmo modo que ele a ela, com óbvio prazer. Era quase tão alta quanto ele – devia ter um e oitenta, pouco mais ou menos – e, pelo que podia sentir de seu corpo que tocava o dele, seu físico era o de alguém com habilidade nos esportes – espada, talvez, artes marciais e arco e flecha. Poderia, também, ser ginasta – e corara tanto que mesmo ele se sentiu envergonhado – coisa que nunca sentira antes.

- Ahh... Hmm... O-obrigada por me segurar. – Sua voz era musical. Tilintava, como a de uma princesa de contos de fadas. Parecia percorrer todo o caminho por onde ela estava. Também não conseguia encará-lo, aparentemente. Olhou ao redor e, corando ainda mais, olhou para seu braço.

Foi então que, percebendo que ainda a segurava, colocou-a de pé gentilmente, mais corado do que jamais estivera desde que era criança, e entregou-lhe a bolsa.

- Sinto muito, deveria ter olhado por onde andava. – Sua voz saiu rouca e profunda. Ele se perguntou, então, o que estava acontecendo com ele. Que efeito tinha a garota sobre ele, que o deixava tão nervoso?

- Ahh... Não, eu que me desculpo... Estava... Distraída. Desculpe. – A garota olhou para cima e finalmente encontrou seus olhos. – Muito abrigada mais uma vez.

- Ah... Hmm... Não há de quê... – Dessa vez, nenhum deles desviou o olhar. O barulho no refeitório, que, quando se esbarraram, virara um burburinho, agora sumira por completo: todos observavam a cena, boquiabertos. Demetris e a outra menina que antes os estavam olhando com terror, agora encaravam outras duas garotas no canto oposto do salão. Essas duas, por sua vez, fixaram um olhar tão intenso nos dois que poderia transformar gelatina em pedra. Como se ele se importasse com alguma coisa que estivesse acontecendo a mais de dois metros deles. – Ahh... Eu... Ahh... Sou novo por aqui... E você parece ser nova, também... O que acha de sentarmos junto com minha irmã mais nova, Demetris? – Disse ele, desesperado para ficar mais tempo perto da garota que acabara de conhecer.

Parecendo surpresa com o convite, a menina balançou a cabeça afirmativamente.

- Hmm... Claro. Só... Espero que não se importe se minha irmã também se sentar com a gente. – Surpreso por ela também ter uma irmã, acenou, confirmando. Ela, então, acrescentou – Por sinal, meu nome é Ártemis. – Seus olhos brilharam com o nome, que parecia doce como mel saindo de sua boca.

- Sou Daniel. – Respondeu ele, com um sorriso. Não sabia por que, mas o nome da garota pareceu despertar algo nele que nunca sentira antes. Uma alegria, como se voltasse para o lugar a que pertencesse depois de muito tempo longe.

As garotas que os encaravam sorriram de forma demoníaca, enquanto Demetris e a outra menina olhavam de forma feroz e pareciam cintilar um pouco, perigosamente, como se escondessem algum poder.
Os cristais em seus pescoços brilharam.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Capítulo Um

Demetris e Marianne sumiram no instante em que terminaram a reverência. Cada uma fora para a casa da Terra que escolheram para esconder as crianças. Porém, como o tempo de Fantasia passa de forma diferente do da Terra, apesar de algumas horas terem se passado para Anabeth mandar os guardiões das trevas, onde elas estavam demorou apenas alguns segundos para que Marianne e Demetris percebessem que estavam sendo perseguidas.

O mais rápido que conseguiram, apagaram seus rastros de magia e tentaram selar os poderes das crianças dentro dos pingentes de cristal que tinham. Mas seus poderes eram tão grandes que, se não parassem, os cristais iriam quebrar. Guardando o máximo de poder que conseguiram dentro dos cristais, deixaram pequenos resquícios de magia dentro delas. Essa magia seria um problema, pois deixaria rastros muito fortes; felizmente as crianças não aprenderiam a usá-la.

Apagaram a memória das famílias que escolheram e, dentro de alguns anos, iriam se passar por irmãs mais novas dos dois.

Suspiraram. A partir de agora, suas tarefas seriam ainda mais complicadas, mas não interessava. Ártemis e Daniel deveriam ser protegidos a qualquer custo.

***

Dezessete Anos Depois

- Ártemis, você não pode mudar de escola! Tipo, esse internato pra onde você tá indo com a sua irmã fica, tipo, em Londres. Londres! Sabe quanto custa uma ligação daqui de Nova York pra Londres? – Ártemis recordava, enquanto andava pelo corredor de sua nova escola com sua irmã, Marianne, procurando seus respectivos quartos, da despedida de suas amigas.

Marianne, dois anos mais nova do que Ártemis, encontrou seu quarto e disse que voltaria a se encontrar com ela no refeitório dentro de uma hora. Ártemis continuou pelo corredor até seu quarto, um pouco mais para a frente. Sua colega de quarto já deveria ter ido jantar, portanto arrumou suas coisas e saiu apressada.

- Ah, nem vem, Sabrina! Você e o Erik podem me ligar sempre que quiserem que, por seus pais trabalharem com esse negócio de celulares, vocês não vão pagar a taxa de ligações internacionais. – Disse Ártemis no aeroporto. – E podemos usar o MSN, Twitter, Orkut e o Facebook todos os dias!

- Você terminou com o Erik! Só porque vai se mudar! E nem vem! Quanto tempo vai levar para que as coisas estranhas que acontecem com você te levem a conhecer uma nova melhor amiga e te dêem um namorado novo? Aí você nunca mais vai falar com a gente! – Sempre dramática, Sabrina agarrou-se a Ártemis até que esta fora obrigada a embarcar, mesmo depois de garantir-lhe que não arranjaria nenhum dos dois.

Muito estranho foi que, bem quando lembrava desta parte, esbarrou com alguém no corredor e teria caído se não fosse a reação rápida – e talvez sobre-humana – da pessoa com quem esbarrara, que a segurou – e à sua bolsa – antes que ambas encostassem no chão.

Levantando o olhar para agradecer o estranho, assustada e ao mesmo tempo agradecida, Ártemis perdeu o fôlego: encontrou-se encarando o cara mais gato que já vira – bem em frente da porta do refeitório, com todo mundo lá dentro olhando, com sua irmã, ao lado de uma outra garota, mais ou menos da mesma idade de Marianne, que deveria ser sua colega de quarto, encarando-os com horror nos olhos: e ela nem ligava – e não conseguia dizer absolutamente nada.

O garoto era alto, deveria ter um metro e noventa – e Ártemis se achava alta, com um metro e oitenta e cinco de altura –, cabelos que não tinham cor especifica – estavam entre o loiro escuro, o castanho e o preto, com mechas douradas totalmente naturais -, olhos verdes brilhantes – não de um verde comum, como a maioria das pessoas, mas um verde intenso, nem claro nem escuro, vivo, que parecia analisar toda a sua alma -, o rosto perfeito.

Descendo o olhar um pouco, Ártemis ficava cada vez mais impressionada. Seus músculos eram quase tão impressionantes quanto seu rosto, duros como pedras. Não eram idiotamente tão grandes quanto o daqueles caras que ficavam quinze horas por dia na academia. Pareciam, para falar a verdade, músculos provenientes apenas da prática de esportes.

- Ahh... Hmm... O-obrigada por me segurar. – Ártemis parecia não conseguir olhar por mais de três segundos em seus olhos. Desviou o olhar e, sem querer, acabou olhando para os braços que a seguravam. Sabia que estava sendo ridícula com tudo isso, mas simplesmente não conseguia se segurar; era como se toda a sua mente quisesse aquele garoto desconhecido para ela.

Parecendo dar-se conta apenas nesse instante que ainda mantinha seu braço ao redor da cintura de Ártemis, o garoto corou, colocou-a de pé gentilmente, e entregou-lhe a bolsa.

- Sinto muito, deveria ter olhado por onde andava. – A voz dele era tão impressionante quanto o resto. Profunda, parecia a voz hipnótica de um vampiro que Ártemis vira em um filme, do qual não lembrava o nome – parecia não se lembrar de nada enquanto estivesse na presença dele. Pelo menos conseguiu achar sua voz.

- Ahh... Não, eu que me desculpo... Estava... Distraída. Desculpe. – Olhou para cima e encontrou seus olhos. – Muito abrigada mais uma vez.

- Ah... Hmm... Não há de quê... – Dessa vez, nenhum deles desviou o olhar. O barulho no refeitório sumira por completo: todos observavam a cena. Marianne e a outra garota agora não olhavam mais para os dois. Encaravam outras duas garotas, um pouco mais velhas – de uns dezesseis, dezessete anos; mais ou menos a idade de Ártemis – que observavam, por sua vez, os dois na entrada do salão. – Ahh... Eu... Ahh... Sou novo por aqui... E você parece ser nova também... O que acha de sentarmos junto com minha irmã mais nova, Demetris?

Surpresa com o convite, Ártemis balançou a cabeça afirmativamente.

- Hmm... Claro. Só... Espero que não se importe se minha irmã também se sentar com a gente. – Quando o garoto balançou a cabeça afirmativamente, disse – Por sinal, meu nome é Ártemis.

- Sou Daniel. – Respondeu ele, com um sorriso que fez seus caninos cintilarem.

As garotas que os encaravam sorriram de forma demoníaca, enquanto Marianne e a outra garota olhavam de forma feroz e pareciam cintilar um pouco, perigosamente.
Os cristais em seus pescoços brilharam.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Convite de Uma Fada

Prólogo

O vestido, branco como a neve, esvoaçava devido ao vento, como se protestasse estar preso àquele corpo apenas pelas duas tiras nos ombros. Surpreendentemente, a mulher que o usava conseguia mantê-lo no lugar, domando-o de forma habilidosa.

Seu rosto nada mais era do que sombras, escondendo suas feições. Percebia-se que olhava ao redor constantemente, como se temesse ser perseguida. Quando passou por sob um ponto de luz, via-se sua verdadeira beleza: não apenas seu corpo – alto, esguio e esbelto – mas seu rosto era bonito, e de seus olhos irradiava toda a essência de sua alma. Um corpo digno de uma escultura.

Os olhos, verdes, profundos e brilhantes; deles saía alguma coisa indescritível, que colocaria a prova até mesmo o mais valente guerreiro da época, ofuscado por breves momentos quando seus cabelos, empurrados pelo vento, entravam na frente. Sua boca era pequena, doce e em formato de coração. Todos que a olhavam eram convidados a prová-la – saborear cada canto de sua aparente maciez e doçura através de um beijo – o que apenas faria com que quem o fizesse estivesse perdido em seus caminhos insondáveis quando terminasse, querendo mais, não resistindo à uma segunda prova.

Quando se olhava um pouco acima, via-se o nariz, levemente arrebitado, fino e de forma perfeita; o nariz de uma princesa. Sua beleza era apenas incrementada por seus negros cabelos ondulados, na altura dos joelhos que, ao colidir com o vento em uma briga incessante, misturava-se com o branco puro do vestido de uma forma graciosa, criando uma harmonia rara entre os dois – um turbilhão de trevas e luz que entravam em conflito.

De longe, pareceria uma garota – ou princesa – humana, comum. Entretanto, observando-se mais atentamente, via-se em suas costas o leve brilho prateado de asas e, em sua cabeça, as orelhas, pontudas como as de um elfo, que nenhum humano teria.

Era, portanto, uma fada.

Em seus braços, trazia uma pequena trouxa de pano, à qual se agarrava como se sua vida dependesse disso. Seus olhos brilhavam em determinação. Percebia-se, em sua fuga apressada, que suas asas falhavam a todo o momento, o que deixava claro que a guerra travada no reino das fadas há vários anos, a alcançara, finalmente.

Quando chegou o mais longe que conseguia das fronteiras, parou. A expressão feroz em seu rosto fora substituída pela de fatiga e desespero. Ajoelhada, abraçada à pequena trouxa, começou a recitar um encanto de forma fria e sem emoção. Antes, porém, que conseguisse sequer terminar a primeira linha do feitiço, algo se mexeu dentro dos arbustos atrás de onde estava.

É claro que não poderia ser um animal: depois das fronteiras, não havia nada nos campos por quilômetros. Todo o campo em que se encontrava era deserto, por fora os arbustos atrás dela, portanto, quando ouviu o barulho, rápida como um raio de luz, a jovem tirou sua faca de caça de dentro das botas de couro – não tendo tempo de alcançar a espada na bainha em sua cintura – e prendeu a criatura que se encontrava agachada atrás da folhagem, sob seus joelhos, contra o chão, arfando e encarando-a, com a faca na garganta.

Surpresa, largou a faca quando se deu conta de que era Raymond, rei das terras vizinhas às suas, que também trazia um fardo em suas mãos e sorria de uma forma maliciosa. Suas presas cintilaram com a visão da faca – de cabo dourado e lamina de prata, toda adornada com gravuras em alto relevo – a qual reconhecera, por ser um presente seu.

Com um suspiro de alívio, a fada tentou retirar seus joelhos de cima dele e levantar, mas estes perderam a força no meio do caminho e ela teria caído, não fosse a rapidez vampírica de Raymond, que a segurou. Suspirando de alegria, a fada jogou-se em seus braços e ficou soluçando durante um tempo.

- Raymond, imaginei que a sanguessuga da sua esposa, aquela nojenta, os havia matado! – Sua voz era doce, musical. Quando falava, era como se sinos tocassem por todos os lugares por onde sua voz passasse. O encanto, porém, era quebrado pelos soluços contínuos que apareciam em sua voz.

Afagando seus cabelos e depositando sua trouxa ao lado da outra, Raymond, com seus dois metros de altura, bonito, de olhos azuis tão escuros quanto o mar, tentou tranqüilizá-la.

- Eu e meu filho estamos bem, não se preocupe, Lucy. – Sua voz era profunda e, influenciada com seu poder ou não, tranqüilizadora. – Era com vocês duas com que estava preocupado, o que, claro, ajudou com que ficasse mais fácil para Anabeth, mesmo sem conseguir ler minha mente, descobrisse a verdade. Mas não se preocupe! – Com a expressão no rosto de Lucy, qualquer um ficaria tão desesperado quanto ela, no momento em que a olhasse. – E agora, o que faremos com eles?

Voltando a soluçar, Lucy agarrou-se ainda mais a ele, murmurando de forma desesperada ‘não quero... não posso fazer isso...’ por diversas vezes.

Raymond compreendia os sentimentos de Lucy, e nunca vira rainha tão corajosa quanto ela quando, ao descobrir que Holmes, seu marido, e Anabeth, sua esposa, estavam juntos e tentando acabar com a luz do reino, transformando-o em trevas, ela lhe contou seu plano. Mas, se fosse para escapar de ambos, Lucy estava disposta a sacrificar qualquer coisa, inclusive sua própria felicidade.

Enfim ela parou de chorar. Lembrara dos protetores que os reinos de ambos enviaram para momentos como esse, em que fosse necessário proteger as crianças e selar seus poderes pelo tempo que fosse preciso.

Juntos, decidiu, abririam o portal. O vento rugiu com maior intensidade com quando o fizeram, como se quisesse selá-lo uma vez mais, por mais que isto lhe custasse. Do outro lado, Demetris e Marianne, as guardiãs da Luz, os esperavam, preocupados.

- Não se preocupe, Rainha Lucy. – Assegurou-lhe Demetris. – Sua filha estará em boas mãos.

- E o mesmo digo eu, Rei Raymond. Seu filho ficará bem. – Garantiu Marianne. Com uma reverência, ambos desapareceram.

Ao lacrarem o portal, a paz do campo em que se encontravam voltou a reinar, o vento soprando de forma normal, levando seus suspiros um pouco mais tranqüilos: pelo menos os dois estavam a salvo.

- Aquela profecia... Será que são os destinados a cumpri-la? – Um deles sussurrou, mas, anos depois, não lembrariam quem fora.

Esperaram por alguns momentos, abraçados, antes de correr para um lugar seguro quando, de forma súbita, uma rajada de vento, pior do que o vento originado pelo portal, começou a soprar. As asas de Lucy – consertadas magicamente por Raymond – batiam descontroladas, ameaçando tirá-la do chão, em fúria, reconhecendo a essência mágica daquele vento: a mesma que as machucara anteriormente.

- Então é ela, não é, Raymond? A sua amantezinha ridícula! Uma FADA, veja só! – A voz vinha do vento que os açoitava e, acima de suas cabeças, apareceu Anabeth.

Quando seus olhos encontraram os de Lucy, esta sentiu uma dor aguda em sua mente, o que significava que estava sendo analisada minuciosamente e não adiantaria resistir, a menos que aceitasse ficar louca pelo resto de sua vida.

Sentiu-se cair e Raymond a segurá-la. Estava tenso – não que fosse afetado: vampiros não podiam ler as mentes de outros vampiros, apenas insinuar a verdade daqueles ansiosos demais para guardá-la – mas já era tarde demais. A dor em seu cérebro sumiu ao mesmo tempo em que a voz rascante de Anabeth gritava, com horror:

- Vocês mandaram as crianças da profecia para a TERRA?

O Começo...

Boom... Sinceramente, nem sei direito porque eu tô aqui... Simplesmente essa minha idéia começou com "Meu... Que dobradinha de Português mais inútil..." e foi então que eu comecei a escrever...
E... Bem... Algumas amigas minhas me convenceram a postar isso aqui... Sério, nao sei porque, mas elas ficaram me atormentando tanto... E eu pensei... Por que não? É capaz de só elas lerem mesmo... Então...!
E é isso...
Esperoo que vocêês leiaam, Oks? E que gostem! Qualquer coisa é sóó comentareem! ^^

Beijos pra vocês
Gi