sexta-feira, 11 de junho de 2010

Capítulo Três

Marianne foi para o quarto quando Ártemis a deixou no dormitório dos primeiranistas. Estava vazio, a não ser por uma ou duas garotas atrasadas para o jantar. Olhando ao redor, subiu a escada que daria para seu quarto e, quando tocou na maçaneta, estacou. Sentira uma força mágica muito alta atravessar a porta.

Enquanto encarava a porta com uma bola de fogo preparada na mão – que, aos olhos de um humano normal, parecia apenas uma bolinha pula-pula vermelha – a porta escancarou-se e ela se viu encarando, ao invés, uma bola mágica de energia.

- Marianne? – Ela só teve tempo de escutar um grito de alegria entes de ter sua visão completamente obstruída por cabelos loiros compridos enquanto era abraçada.

- Demetris? – Gritou Marianne, abraçando de volta a irmã e companheira guardiã que não via há dezessete anos. Cabelos loiros e ruivos se misturaram em um turbilhão, as bolas de energia se apagaram e os olhos – azuis de Demetris, cinzas de Marianne – ficaram marejados de lágrimas de felicidade.

- Ai, desculpa. Ficar nessa forma de criança me deixa emocional! – Marianne limpava as lágrimas, mas ainda radiava felicidade.

- Ahh, nem liga. Que bom que você está aqui, e... – Com uma parada abrupta, Demetris encarou Marianne. Sua expressão mudou de felicidade para horror. Quando Marianne finalmente entendeu, seus joelhos cederam e ela caiu sentada.

- NÃO! Se nós estamos aqui... Então os dois vão... Mas... Isso... Elas... Será que as duas também estão aqui? As guardiãs das Trevas? Se Daniel e Ártemis se encontrarem, eu não quero nem ver! – Marianne choramingou até que Demetris entregou-lhe um copo d’água.

- Se você conseguiu sentir a energia que emanou de mim através da porta e eu consegui sentir a sua, e nós estávamos há pouco tempo com os dois, isso significa que vai ser muito perigoso se os dois se virem. A energia que eles emanam, apesar de ser pouca comparada com a original, graças aos cristais, ainda é enorme. – Demetris, sempre a mais racional, ajudou sua irmã a se levantar e sentou-a na cama, enquanto, apenas com o olhar, trocava a roupa das duas, colocando vestidos brancos com lantejoulas parecidos em ambas.

- O que significa que, se as guardiãs das Trevas estiverem aqui, e os dois se encontrarem e os cristais brilharem, elas vão total perceber que tem alguma coisa errada. Se aqueles pingentes ao menos derem indício de uma cintilação, um ser mágico consegue sentir a força deles de muito longe. O que faremos agora?

- Vamos, simplesmente, agir normalmente. Se estivermos por perto e nos concentrarmos, podemos fazer com que a magia pareça mais fraca. Depois, faremos de tudo para que eles não se encontrem. Espero que dê certo.

Apressadas, saíram correndo para o refeitório (chamado de Salão de Jantar no internato) e, ao entrarem, olharam ao redor, procurando seus respectivos protegidos. Depois de alguns minutos olhando em volta, sentiram quatro poderosas energias e, ao mesmo tempo em que todos no local, escutaram o barulho de uma trombada e um ofegar na porta do refeitório.

Rezando para que não fossem as duas únicas pessoas que fariam com que tudo desse errado (sabendo, é claro, que eram, porque nunca acontece o que a gente espera), viraram-se em direção a porta e viram duas pessoas que pareciam deuses gregos de tão lindos – a garota nos braços do garoto, os cabelos brilhantes que pareciam mudar de cor, os olhos verdes vivos, um tão alto e de porte atlético quanto o outro – se encarando. O garoto segurava a bolsa da menina na mão que não a amparara antes de cair no chão, e os pingentes em seus pescoços começaram a cintilar.

Lembraram-se, então, das duas outras energias que sentiram ao ouvirem o baque. Percorreram o salão com os olhos e viram mais duas garotas – também do primeiro ano, mas que, pela quantidade de gente com quem se sentavam a mesa, já estavam lá há bastante tempo – que começaram a cintilar – do mesmo modo que Demetris e Marianne – ao mesmo tempo em que os cristais por debaixo das roupas dos dois começaram a soltar energia.

As duas, claro, não podiam ver o cristais de Luz – mas as guardiãs da Luz conseguiam ver os cristais de Trevas que pendiam de seus pescoços. E, apesar de não verem os cristais, conseguiam sentir a energia que os dois soltavam. Mal perceberam que, enquanto encaravam as duas, o barulho no lugar tinha cessado por completo e que, depois de alguns momentos, os dois garotos na porta viraram-se, constrangidos, para dentro do salão e iam em direção as duas.

- Hmm... Demetris, essa é, hmm... Ártemis... Ela também é nova aqui... Como a gente... E, hmm... Ártemis, essa é minha irmã mais nova, Demetris. Ela é dois anos mais nova do que eu, e está no primeiro ano. – Corado – uma coisa que Demetris nunca vira antes – Daniel apresentou as duas.

Pensando que Demetris era absurdamente parecida com Marianne, Ártemis cumprimentou-lhe com dois beijos na bochecha, como duas garotas quaisquer se cumprimentariam.

- E, hmm... Marianne... Bom, acho que você já conhece a Demetris e... Ahh... Esse é o Daniel... E... Bom... Ele já disse que é novo e... Haann... Acho melhor que... Bom... Como somos novos, sentarmos juntos... – Ártemis gaguejava – o que não era normal – e estava vermelha como uma criança pega no flagra comendo um doce fora de hora.

Com as devidas apresentações, seguiram para a mesa e, após alguns momentos de conversa recatada, todos começaram a se soltar. No fim do jantar, conversavam como se se conhecessem há anos – o que, tecnicamente, era verdade, mas os dois não sabiam disso.

- Não podemos ficar o tempo todo com eles agora! Como vamos fazer para protegê-los daquelas duas? – Sussurrou Marianne enquanto os dois estavam em um animado – e um pouco acanhado – papo sobre suas cidades natais.

Quando ia responder, ouviram duas vozes acima de suas cabeças. Levantando o olhar, viram as duas garotas que perceberam a magia deles bem atrás de Daniel e Ártemis, parecendo devorá-los com os olhos.

- Ahh, oii para vocês quatro! Vocês devem ser os quatro AO desse ano (Alunos De Ouro). – Dizia a primeira, uma garota com cara de uns 18 anos (mas que tinha 15; pelo menos no disfarce), cabelos castanhos no meio das costas, olhos castanhos e um sorriso falso – Meu nome é Alexa. Vim aqui como vice-presidente do primeiro ano dar as boas-vindas para as duas.

Olhando-as de cima a baixo, Alexa pareceu concluir uma das duas coisas: ou Marianne e Demetris eram as guardiãs, ou eram as princesas. Aos dois, nem sequer deu muita atenção. Parecia analisar as duas, primeiro.

- E eu sou Jackie. Também estou aqui como uma das primeiranistas mais antigas para dar as boas-vindas para vocês. – Agora virando-se para os dois – E a vocês também. Mas não podemos fazer nada quanto aos veteranos... Esse é o trabalho do grêmio. Se vocês andarem por ai pelo internato podem encontrar um deles. – Dessa vez eram a eles que observavam. Ao pousarem em seus pescoços, seus olhos se arregalaram. – Bom, vamos indo. Acho que vocês já têm seus horários de aulas, não?

Os quatro afirmaram e as duas foram embora, parecendo, de certa forma, assustadoras. Marianne e Daniel se levantaram ao mesmo tempo quando elas saíram de seu campo de visão.

- Eu vou para o quarto. Você vem, Demi? – Marianne lançou um olhar significativo e Demi concordou e também se levantou. Elas pareciam assustadas e alarmadas com alguma coisa.

- Hmm... Eu vou pegar o horário no meu quarto e depois vou dar uma volta por aí... Quer ir, Ártemis? – Encabulado, Daniel olhava para qualquer lugar, menos para ela. Droga, o que essa menina fizera para deixá-lo desse jeito? Era como se, para ele, ela fosse algo que precisasse ficar sempre por perto, para que ele conseguisse se sentir bem. Era uma estranha mas, ainda assim, surpreendentemente familiar. Era como se algo estivesse dentro dele obrigando-o a ficar ao lado dela... Como que... Para protegê-la.

Sorrindo, Ártemis levantou, pegou sua bandeja, devolveu-a a senhora da limpeza e voltou para onde os três estavam (quando eles se mexiam, todo o salão parecia ficar quieto e os contemplavam, aturdidos). Ela nem olhou em volta, sem se importar com o que quer que pudessem pensar. Simplesmente queria passar o resto do dia com a companhia daquele menino, que despertava algo dentro dela que ela parecia não ser capaz de controlar.

- Você não se importa, não é, Mari? Também vou pegar meu horário e dar uma volta pelo campus... Sabe, tenho que conhecer as coisas, para não me perder e tudo...Rindo como duas malucas, Marianne e Demetris correram para fora do salão sem que Marianne respondesse. Agora encabulada, Ártemis virou-se para Daniel, que sorria daquele jeito que fazia seus caninos cintilarem de um modo estranho e, ao mesmo tempo, familiar. Era um sorriso sarcástico, que parecia ficar em seus lábios o tempo inteiro, junto com o olhar que, Ártemis já notara, não era de desprezo ou sarcasmo, mas que assim parecia. Daniel era um mistério. Ártemis, sendo ótima para solucionar mistérios, estava decidida a resolver esse.

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