sexta-feira, 11 de junho de 2010

Capítulo Dois

Daniel andava pelos corredores com Demetris pensando o que o fizera deixar Sidney. Depois de muito pensar, decidiu que foram as coisas ruins que aconteciam o tempo todo – sua velocidade absurda, rápido raciocínio, sempre adivinhar o que os outros estavam pensando, sua força anormal; - tudo fazia com que coisas horríveis – como tentar puxar uma corda para ajudar a levantar uma caixa bem pesada, a corda arrebentar por ter puxado forte demais, apesar de, em sua opinião, ter sido super fraco – acontecessem.

Deixou suas coisas em seu quarto e, constatando que seu colega de quarto não estava lá (deveria estar no refeitório) saiu, apressado, pensando novamente nas coisas estranhas que aconteceram.
Não sabia por que, no entanto. Sempre tentara agir da forma mais normal possível. Nunca entrara em competições nem nada, e sempre fora bem na escola. Fora o seu pingente de cristal, que ganhara ao nascer, não usava nada de jóias. Era popular com as garotas e tinha vários amigos... Mas nunca tentara nada em particular com nenhuma das meninas que se aproximaram.

Foi enquanto pensava nisso que esbarrou nela. Completamente perplexo com o súbito encontrão, focou-se bem a tempo de ver uma garota caindo. Esticou-se e segurou a ela e a sua bolsa antes que chegassem a bater no chão da frente do refeitório, onde todos pararam de falar para observar a cena. Sua irmã, Demetris, e uma garota ao seu lado, encaravam-nos fixamente e com horror absoluto no olhar, mas ele não se importava.

A garota era maravilhosa. Os cabelos eram compridos e, assim como os seus, não pareciam ter uma cor certa: pareciam mudar de cor constantemente – de um vermelho vivo para um amarelo dourado. Do dourado para o castanho. Do castanho para o preto, e essa era a cor que dominava. – e eram brilhantes como nenhum outro. Seus olhos eram verdes vivos e brilhantes. Cintilavam, enquanto o examinavam do mesmo modo que ele a ela, com óbvio prazer. Era quase tão alta quanto ele – devia ter um e oitenta, pouco mais ou menos – e, pelo que podia sentir de seu corpo que tocava o dele, seu físico era o de alguém com habilidade nos esportes – espada, talvez, artes marciais e arco e flecha. Poderia, também, ser ginasta – e corara tanto que mesmo ele se sentiu envergonhado – coisa que nunca sentira antes.

- Ahh... Hmm... O-obrigada por me segurar. – Sua voz era musical. Tilintava, como a de uma princesa de contos de fadas. Parecia percorrer todo o caminho por onde ela estava. Também não conseguia encará-lo, aparentemente. Olhou ao redor e, corando ainda mais, olhou para seu braço.

Foi então que, percebendo que ainda a segurava, colocou-a de pé gentilmente, mais corado do que jamais estivera desde que era criança, e entregou-lhe a bolsa.

- Sinto muito, deveria ter olhado por onde andava. – Sua voz saiu rouca e profunda. Ele se perguntou, então, o que estava acontecendo com ele. Que efeito tinha a garota sobre ele, que o deixava tão nervoso?

- Ahh... Não, eu que me desculpo... Estava... Distraída. Desculpe. – A garota olhou para cima e finalmente encontrou seus olhos. – Muito abrigada mais uma vez.

- Ah... Hmm... Não há de quê... – Dessa vez, nenhum deles desviou o olhar. O barulho no refeitório, que, quando se esbarraram, virara um burburinho, agora sumira por completo: todos observavam a cena, boquiabertos. Demetris e a outra menina que antes os estavam olhando com terror, agora encaravam outras duas garotas no canto oposto do salão. Essas duas, por sua vez, fixaram um olhar tão intenso nos dois que poderia transformar gelatina em pedra. Como se ele se importasse com alguma coisa que estivesse acontecendo a mais de dois metros deles. – Ahh... Eu... Ahh... Sou novo por aqui... E você parece ser nova, também... O que acha de sentarmos junto com minha irmã mais nova, Demetris? – Disse ele, desesperado para ficar mais tempo perto da garota que acabara de conhecer.

Parecendo surpresa com o convite, a menina balançou a cabeça afirmativamente.

- Hmm... Claro. Só... Espero que não se importe se minha irmã também se sentar com a gente. – Surpreso por ela também ter uma irmã, acenou, confirmando. Ela, então, acrescentou – Por sinal, meu nome é Ártemis. – Seus olhos brilharam com o nome, que parecia doce como mel saindo de sua boca.

- Sou Daniel. – Respondeu ele, com um sorriso. Não sabia por que, mas o nome da garota pareceu despertar algo nele que nunca sentira antes. Uma alegria, como se voltasse para o lugar a que pertencesse depois de muito tempo longe.

As garotas que os encaravam sorriram de forma demoníaca, enquanto Demetris e a outra menina olhavam de forma feroz e pareciam cintilar um pouco, perigosamente, como se escondessem algum poder.
Os cristais em seus pescoços brilharam.

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